No dia 16 de dezembro, o Clube de Leitura levou as Boas Festas às salas de aula, presenteando os colegas e professores com três poemas Natal Up-To-Date de David Mourão-Ferreira; Natal de Sidónio Muralha e Janeiras de Vitorino Nemésio.
Aqui ficam as fotografias e os poemas para que os possam rever...
Natal Up-To-Date
Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década
Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público
Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da Lua
Rainhas de beleza vêm de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas
Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido
Assim a noite passa E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco."
David Mourão-Ferreira
Natal
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha
Obras Completas do Poeta
Lisboa, Universitária Editora, 2002
Mandai-nos abrir a porta, Ponde a toalha na mesa Com caldo quente da horta! Teni, ferrinhos de prata, Ao toque desta sanfona! Trazemos ovos de prata Fresquinhos, prá vossa dona. Senhora dona de casa, À ilharga do seu Joaquim, Vermelha como uma brasa E alva como um jasmim! Vimos honrar a Jesus Numas palhinhas deitado: O candeio está sem luz Numa arribana de gado. Mas uma estrela dianteira Arde no céu, que regala! A palha ficou trigueira, Os pastorinhos sem fala. Dá-lhe calorzinho a vaca, O carvoeiro uma murra, A velha o que traz na saca, Seus olho mansos a burra. Já as janeiras vieram, Os Reis estão a chegar, Os anos amadurecem: Estamos para durar! Já lá vem Dom Melchior Sentado no seu camelo Cantar as loas de cor Ao cair do caramelo. O incenso, mirra e oiro, Que cheirais e luzis tanto, Não valeis aquele tesoiro Do nosso Menino santo! Abride a porta ao peregrino, Que vem de num longe, à neve, De ver nascer o Menino Nas palhinhas do preseve. Acabou-se esta cantiga, Vamos agora à chacota: Já enchemos a barriga, Sigamos nossa derrota! Rico vinho, santa broa Calça o fraco, veste os nus! Voltaremos a Lisboa Pró ano, querendo Jesus
Vitorino Nemésio
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